
Categoria: Notícias
Data: 21/05/2025
Sesquicentenário da IP de Dois Córregos
Alderi Souza de Matos
O trabalho presbiteriano no interior paulista teve início poucos anos após chegada do Rev. Ashbel Green Simonton ao Brasil. Os primeiros obreiros a residirem na Província de São Paulo foram o Rev. Francis J. C. Schneider, que se fixou em Rio Claro em 1862, e o Rev. Alexander Blackford, que chegou à capital bandeirante em 1863, vindo um ano e meio depois a organizar a igreja (05.03.1865). Um evento de grande importância foi a conversão e posterior ordenação, em 17.12.1865, do Rev. José Manoel da Conceição, que havia sido pároco em várias cidades do interior e muito contribuiu para o progresso do trabalho evangélico.
A igreja de Dois Córregos foi a terceira do oeste paulista, tendo sido precedida pelas de Brotas (13.11.1865) e Rio Claro (13.04.1873). Seus primórdios remontam a Silvério Saturnino Ferreira Coutinho e sua esposa, membros da igreja de Brotas, que adquiriram o sítio Jacutinga ou fazenda das Palmeiras (mais tarde local da Usina Lambari), entre Dois Córregos e Jaú, a poucos quilômetros de Mineiros do Tietê. Silvério trouxe consigo vários agregados, os quais, com o casal e outros convertidos, constituíram a nova igreja, organizada em 21.03.1875. Na ocasião foram batizados 17 adultos e 15 menores. O organizador foi o Rev. João Fernandes Dagama, missionário português da Ilha da Madeira que havia se radicado nos Estados Unidos, de onde veio para o Brasil. Depois de algum tempo no Rio de Janeiro, ele se transferiu para Rio Claro, onde fundou a igreja presbiteriana.
A organização da igreja de Dois Córregos se deu na casa de Desidério Peres de Aquino, possivelmente um dos agregados de Silvério Coutinho, por vários anos o líder do trabalho. Embora distante de Dois Córregos, a nova igreja recebeu esse nome por se tratar da localidade mais próspera da região (a emancipação do município havia se dado no ano anterior). Já em 1876 consta a realização de cultos na vila, mas o trabalho só se intensificou a partir de 1880, quando passaram a residir em Dois Córregos o professor Remígio de Cerqueira Leite e o presbítero Joaquim José de Gouvêa, um dos fundadores da igreja de Brotas. Em suas casas os cultos se realizaram por vários anos até a construção do templo, inaugurado em 08.08.1890, na Rua 15 de Novembro, 737, em terreno doado pelo Pb. Antônio Pereira Garcia. O esforço desses pioneiros alcançou vários pontos da região como Jaú, Bica de Pedra (Itapuí), Ribeirão Claro (Iacanga), Soturna (Arealva), Figueira (Guarapuã) e Lençóis.
Em 14.04.1889, a igreja de Dois Córregos alegrou-se com a organização da primeira filha, a igreja de Jaú, mas com isso perdeu muitos membros. Ficaram só entre 50 e 70 na sede, na congregação de Mineiros e no ponto de pregação de Santo Antônio da Figueira. Além do Rev. Dagama, outros missionários deram atendimento ao campo nos primeiros anos: George Chamberlain, Robert Lenington, George Landes e John B. Howell, fundador da escola de Ortigal, perto da estação de Capim Fino, no ramal de Agudos. Nesse misto de colégio agrícola e instituto bíblico estudaram três conhecidos pastores: João Vieira Bizarro, Herculano Ernesto de Gouvêa e Bento Dias Ferraz de Arruda.
Os pastores da igreja até o centenário foram Zacarias de Miranda, Herculano de Gouvêa, Antônio Bandeira Trajano, João Vieira Bizarro, Constâncio Homero Omegna, João Pereira Garcia, Firmino Orsini Miguez, Eduardo Gutierres, Leonardo de Campos, José Constantino Ramos, Camilo Fernandes Costa, Luiz Rodrigues Alves, Ludgero Braga, Gutemberg de Campos, Raimundo Loria, Pascoal Luiz Pitta, Matatias de Campos Fernandes, Oscar Ihms Faria, Aquias Silveira Mendes, Silas Augusto Tscherne e o veterano Rev. José Carlos Nogueira. Este último idealizou e presidiu a Comissão Preparadora do Centenário, ao lado de Aquias Mendes e de D. Helcy Bueno Faulim. O Rev. Aquias promoveu uma grande reforma do templo em 1970.
Em um histórico que escreveu, o Rev. José Carlos destacou algumas das principais famílias da igreja: Gouvêa, Cerqueira Leite, Xavier de Mendonça, Gomes, Pereira Garcia, Barros, Pereira de Barros, Lopes Ribeiro, Barbosa, Toledo, Alvarenga, Camargo, Andrade e Bueno, entre outras. Alguns presbíteros destacados dos primeiros tempos foram Joaquim José de Gouvêa, Manoel Pereira de Toledo Magalhães, Antônio Pereira Garcia (pai do Rev. João Pereira Garcia), Antônio Ferraz de Arruda Neto (pai do Rev. Bento Ferraz), Manoel Ribeiro dos Santos (pai do Pb. Joaquim Ribeiro e avô do Rev. Renato Ribeiro dos Santos) e Moisés de Campos Aguiar (pai do Rev. Moisés Martins de Aguiar). As comemorações do centenário, em 1975, tiveram como pregadores o Pb. Eduardo Lane e os Revs. Boanerges Ribeiro, Américo Ribeiro, Naor Garcia e Nephtali Vieira Jr.
Foram pastores da igreja após o centenário os Revs. Gidalte Maria dos Santos, Sebastião Silvestre, Isaac de Souza e Sérgio Donizeti Párice, este último por mais de 25 anos, tendo falecido no início de 2024. A igreja inaugurou um novo templo em 2009 e está filiada ao Presbitério de Brotas, organizado em 2011. O atual pastor é o Rev. Adriano da Silva, que esteve à frente das comemorações dos 150 anos, no último mês de março, nas quais foram pregadores os Revs. Jahyr Theodoro (São Carlos), Carlos Eduardo Aranha Neto (Campinas), Rodrigo Leitão (APECOM e CECEP) e Sidney Schiavon (Araraquara).
É incomensurável o legado espiritual deste século e meio de trajetória da veneranda Igreja Presbiteriana de Dois Córregos. Apesar das dificuldades próprias de igrejas em pequenas cidades do interior, essa comunidade permanece fiel a Jesus Cristo, ao seu evangelho e à missão que dele recebeu. Graças a Deus por tão rica história!
O Rev. Alderi Souza de Matos é o historiador da IPB